(Pré-) História da Educação
Social: A Pedagogia Social como
sustentação científica
Ruben Amorim
Apes | Associação Promotora da Educação Social
Portugal
Nota introdutória
Para se aceder ao conceito de educação social é fundamental
entender-se a pedagogia social, uma vez que esta é a ciência da educação social
(Serrano, 2004). Com efeito, o presente artigo tem como propósito elucidar
acerca do trajeto histórico, geográfico e temporal da pedagogia social, através
dos contributos de diversos autores que, apesar de não serem consensuais,
desenvolveram o conceito até o tornarem numa ciência.
Mager, Diesterwerg, Natorp ou Nohl?
Quem é, afinal, o mentor da Pedagogia Social?
Abundam defensores de uns ou de outros, porém, alguns factos
inequívocos, descurando qualquer tipo de julgamento, permitem perceber que cada
um dos indivíduos referenciados contribuíram para o desenvolvimento do que hoje
definimos como pedagogia social. Muitos outros nomes poderiam ser referidos, no
entanto, esta seleção permite simplificar uma quantidade inestimável de
contribuidores para a emergência da pedagogia social.
Volveu-se, inicialmente, um período de uma pedagogia social implícita,
isto é, de antecedentes que indiretamente contribuíram para o aparecimento
deste conceito: mundo clássico (Grécia e Roma), desde Platão a Hegel, e de Kant
a Pestalozzi, passando por Rousseau (Caride, 2005 e Díaz, 2006).
O surgimento espaço-temporal da pedagogia social
A pedagogia social surge na Alemanha em meados do século XIX,
consolidando-se na primeira metade do século XX (Serrano, 2003; Díaz, 2006;
Caride, 2005; Ortega, 1999; Noguero, 2005), devido aos problemas relacionados
com a sociedade industrial e a crise belicista. Rauschenberg (1999), citado por
Caride (2005), refere mesmo que o século XX é o século da pedagogia social.
Centremo-nos nos nomes iniciais. Como referido
anteriormente, cada um deles teve a sua pertinência no surgimento da pedagogia
social, todavia, com contributos divergentes.
A primeira referência ao conceito de pedagogia social: Mager
(1844) e Diesterwerg (1850)
De acordo com Caride (2005) existem autores que defendem que
foi Mager o primeiro a referir-se à pedagogia social: Kronen (1980) e Böhm
(2002). Porém, outros defendem que foi, precisamente, Diesterwerg a utilizar,
pela primeira vez, o conceito de pedagogia social.
Um facto é comum e unanime entre praticamente todos os
autores: quaisquer dos dois que tenham feito referência à pedagogia fizeram-no,
inequivocamente, sem qualquer intencionalidade e rigor científico (Caride,
2005).
Ainda assim, o criador do conceito de pedagogia social é
manifestamente associado a Diesterwerg, em 1850, aquando da sua publicação:
“bibliografia para a formação dos professores alemães”.
Natorp e o sociologismo pedagógico
Caride (2005) refere que vários autores (Luzuriaga,
Kuchenhoff, Fermoso e Böhm) reconhecem a importância de Natorp no
desenvolvimento da pedagogia social como ciência. O mesmo autor refere que
Natorp foi o criador do socialismo pedagógico, mais do que propriamente da
pedagogia social.
Existe uma grande divergência entre autores relativamente ao
seu contributo para a pedagogia social, isto é, uns defendem que apenas criou
um movimento ideológico, outros afirmam que ele foi o fundador da pedagogia
social.
Natorp terá criado o conceito de pedagogia social, no
entanto sem representar, na altura, o que é hoje a pedagogia social (Quintana,
1984), sendo Nohl terá referido, de acordo com Caride (2005), que quando
pensamos numa pedagogia como assistência e prevenção social temos que
obrigatoriamente esquecer Natorp.
Em contrapartida, Radl (1984) afirmou que Natorp foi o
primeiro a atribuir à pedagogia social um conceito, um objeto e as suas
tarefas. Assim, muitos autores mais recentes reconhecem a importância de Natorp
para a afirmação da pedagogia social como ciência (Caride, 2005), uma vez que
ele não só pensa e escreve sobre este mesmo conceito, mas também investiga e
reivindica o seu estatuto científico e não meramente como doutrina artística.
Nohl e a afirmação da pedagogia social como ciência
Hermann Nohl assumiu-se como a figura do “movimento
pedagógico social” dos anos 20 (Díaz, 2006), sendo o pai (Quintana, 1997) e
impulsionador da pedagogia, tanto ao nível teórico como prático, considerando-a
como uma teoria da prática para a prática (Radl, 1984). Abriu, ainda, novos
campos de trabalho no âmbito da pedagogia social: desde a infância, passando
pela formação juvenil até à formação de adultos (Böhm, 2002). Segundo Díaz
(2006) Nohl sublinhou a necessidade de realizar ações científicas
(investigação) para dotar a pedagogia social de um caráter científico. Petrus
(1997) referiu que Nohl marcou o desenvolvimento da pedagogia social europeia,
definindo-a como a “ciência da socialização terciária”.
De referir que Bäumer foi uma colaboradora de Nohl e assumiu
também uma grande pertinência na afirmação da pedagogia social e entende-a como
parte da pedagogia, no fundo, um ramo da educação que se ocupa da área
extra-escolar e extra-familiar, chamando a atenção à assistência educativa
publica, social e estatal (Quintana, 1999).
Notas finais
Parece evidente que Diesterwerg é considerado o autor que,
pela primeira vez, referiu o conceito de pedagogia social. Porém, sucederam-se
autores que contribuíram de modo significativo para o desenvolvimento e
afirmação da pedagogia social.
Natorp, apesar de não ser consensual, contribuiu de modo
especial para a afirmação da pedagogia social como ciência e, porventura, terá
mesmo ele a iniciar a investigação e sua legitimação e reconhecimento
científico.
Nohl é uma figura incontornável da pedagogia social e
assume-se como figura principal nos anos 20: movimento pedagógico. Contribuiu
para a afirmação da pedagogia social como ciência terciária.
Referências bibliográficas
CARIDE, J. A. (2005). Las fronteras de la Pedagogia Social: Perspectivas científica e
histórica. Barcelona. Editorial Gedisa, S.A..
DÍAS, A., (2006), “Uma Aproximação à
Pedagogia – Educação Social”, Revista
Lusófona de Educação, Vol. 7, pp. 91-104.
ORTEGA, J. (1999). Educación social especializada. Barcelona: Ariel.
PETRUS, A. (1997). Concepto de educación social. Pedagogía social. Barcelona: Ariel.
QUINTANA,J.M. (1989). Pedagogía Social. Madrid: Dikynson.
RADL, R. (1984). Conceptos, teorias y desarrollo
de la pedagogía social. Bordón.
RIERA, J. (1998). Concepto, formación y profesionalización
del educador social, el trabajador social e el pedagogo social. Valencia: Nau Libres.
serrano, g. (2004). Pedagogía Social, Educación Social:
contrucción científica e intervención prática. 2ª edición. Narcea, S. A. de Ediciones. Madrid.
Sem comentários:
Enviar um comentário