domingo, 20 de janeiro de 2013

Educação para o Empreendedorismo: Emergência e Perspetivas



Resumo
O presente artigo tem como propósito elucidar os leitores para a importância da educação para o empreendedorismo, a sua emergência e as perspetivas em torno do conceito.
É curioso que apesar de ser uma área ligada ao empreendedorismo, ainda se encontra com uma grande falta de coerência científica, uma vez que não existe nenhuma teoria que a sustente. Contudo, existem evidências, suportadas em estudos longitudinais, de que a educação para o empreendedorismo produz efeitos positivos em futuros empreendedores/as.
Tendo em conta que as economias contemporâneas necessitam de empreendedores/s, é inequivocamente fundamental que se aposte na nesta área, servido das melhores abordagens de ensino possíveis.
Nota introdutória
Como a "nova" economia do século 21 se continua a desenvolver em torno do conhecimento, serviços e atividades de informação, baseados na capacidade das empresas criarem e comercializarem o conhecimento, tornou-se evidente a sua capacidade de gerar retornos sustentáveis (Apte, Karmarkar, e Nath, 2008; Audretsch e Thurik, 2000; Black e Lynch, 2003; Ewing Marion Kauffman Foundation, 2007). Concomitantemente, o conjunto central de habilidades deste século inclui capacidades de resolução de problemas analíticos, inovação e criatividade, a iniciativa, flexibilidade e adaptabilidade, o pensamento crítico e habilidades de comunicação e colaboração (Autor, Levy, e Murnane, 2007; Boyd e Vozikis, 1994; Cavanagh e col., 2006; Goldin e Katz, 2008; Ewing Marion Kauffman Foundation, 2007; Pink, 2008; Porter, Ketels, e Delgado, 2007; Scherer, Adams, e Wiebe, 1989; Wagner, 2008).

Crescimento da educação para o empreendedorismo
Durante as duas últimas décadas, o ensino do empreendedorismo expandiu-se significativamente na maioria dos países industrializados (Matlay e Carey, 2006). Tendo por base esta premissa, as Instituições de Ensino Superior (IES) têm sido apoiadas pela política do governo para fornecer programas de desenvolvimento de competências para as Pequenas e Médias Empresas (PME), no sentido de desenvolver um maior nível de habilidades que irão apoiar o crescimento de pequenas empresas (Gordon, Hamilton e Jack 2010).
Katz (2003) referiu que, só nos EUA, existiam mais de 2.200 cursos em mais de 1.600 escolas no âmbito da educação para o empreendedorismo. No caso da União Europeia (UE), a educação para o empreendedorismo assume como objetivos 1) preparar as pessoas a serem mais responsáveis para se tornarem empresários ou pensarem em criar uma empresa, e 2) contribuir para enfrentar, com êxito, o desafio do empreendedorismo na UE (Comissão das Comunidades Europeias, 2006). Consequentemente, o ensino do empreendedorismo tem sido promovido para incentivar o comportamento empresarial e de pesquisa, sendo que esta área se tem desenvolvido consideravelmente nos últimos anos (Edwards e Muir, 2005; Fayolle, 2005).
Verheul e col. (2001, p. 34) referem que a educação para o empreendedorismo se distingue da educação em geral, alegando que o ensino do empreendedorismo está focado especificamente na "promoção do empreendedorismo e estimulação de habilidades empreendedoras".

Diferentes perspetivas sobre a educação para o empreendedorismo
Apesar deste aparente crescimento, as perspetivas inerentes à educação para o empreendedorismo não é consensual, tal como se descreve de seguida, com base na perspetiva mais limitadora do conceito e seus efeitos práticos e, pelo contrário, uma perspetiva mais positiva.
Alguns estudos levantam dúvidas sobre a eficácia da educação para o empreendedorismo, quer para os resultados económicos, quer para os individuais (Martinez e col., 2010; Oosterbeek e col., 2010; Pittaway e Cope, 2007; van Praag e Versloot, 2007). Argumenta-se, ainda, que a educação para o empreendedorismo precisa de desenvolvimento concetual e teórico (Greene e col., 2004; Harrison e Leitch, 2005; Matlay, 2006). O'Connor (2012) refere que existe uma falta de clareza sobre o trabalho específico que um empreendedor pode fazer dentro de uma economia, fazendo com que o propósito da educação para o empreendedorismo seja vago e sem foco de desenvolvimento específico, exceto, talvez, no caso de um proprietário de start-up ou fundador de um negócio/empresa. Assim sendo, Henry e colaboradores (2005) e Gordon e colaboradores (2010) admitem a necessidade de fornecer suporte para o caso de programas de empreendedorismo, através da importância de definir claramente o objetivo a fim de alcançar resultados específicos de desenvolvimento económico regional.
Já no que diz respeito a forma de conduzir o ensino do empreendedorismo, a falta de conhecimento sobre as técnicas de ensino eficazes para educadores empresariais é apresentada como um problema, uma vez que a investigação sobre como ensinar o empreendedorismo é subdesenvolvida (Brockhaus, 2001). Alguns exemplos são Duchénaut (2001): "... mais do que qualquer outro, o modelo empresarial requer uma pedagogia interativa, deixando a iniciativa para o aluno." (p. 142), e Carland e Carland (2001): "A chave, que sentimos, é a transferência da responsabilidade para a aprendizagem do professor para o aluno" (p. 101).
Em suma, as pesquisas na área da educação para o empreendedorismo são caracterizadas por resultados empíricos pouco fidedignos, sem base teórica (Landström, 2000). De acordo com Watson (2001), a ausência de uma teoria, reduz a credibilidade da investigação neste domínio, pois, como refere Gartner (2001), o problema está relacionado com um desconhecimento de premissas básicas em que se baseiam.
Em contrapartida, na perspetiva oposta, os investigadores argumentam que o investimento no desenvolvimento da educação para o empreendedorismo no ensino superior trará retornos fundamentalmente a longo prazo (Galloway e Brown, 2002; Hegarty e Jones, 2008). Outros estudos longitudinais sustentam este ponto de vista (Matlay, 2008), que sugerem que a educação para o empreendedorismo pode ter um impacto positivo sobre os resultados empresariais, mas apenas após longos períodos de indústria ou experiência comercial. Em particular, o ensino do empreendedorismo pode ser uma das maneiras mais eficazes para facilitar a transição de uma população crescente com estudos superiores da educação para o trabalho (Matlay e Westhead, 2005; Matlay, 2005).
Inicialmente, alguns investigadores colocavam a hipótese de que os empresários teriam menos formação do que a população em geral (Jacobowith e Vilder, 1982), todavia, a evidência mais recente, sugere-se que as pessoas que criam empresas têm um maior nível de educação do que as pessoas que não o fazem (Bowen e Hisrich, 1986; Bates, 1995). Especificamente, alguns autores argumentam que o sucesso empresarial é muitas vezes proporcionado em função de competências empresariais com base na educação para o empreendedorismo (Borjas, 2000; Parker, 2004). Por exemplo, muitas vezes é sugerido que os graduados de escolas ligadas aos negócios, e que beneficiaram de cursos de empreendedorismo, têm uma maior propensão a se tornarem empresários (ver, por exemplo, Brown, 1990; Vesper e Gartner, 1996). Além disso, a probabilidade de se envolver na criação de empresas de sucesso aparentemente aumenta com a presença em " programas altamente classificados de pós graduação" MBA (Callan e Warshaw, 1995). Ainda, segundo um estudo longitudinal de Matlay (2008) e com base nos resultados emergentes do mesmo estudo, pôde-se concluir que o ensino do empreendedorismo teve um impacto positivo sobre os resultados empresariais relacionados com as aspirações de carreira dos 64 graduados na amostra da pesquisa. Na mesma linha, Cho (1998) também sustentou que se o talento empresarial fosse inato e não se pudesse desenvolver ao longo do tempo, a educação para o empreendedorismo na tinha qualquer significado, assim, o talento empreendedor não deve ser entendido como inato. O mesmo autor revela que a educação para o empreendedorismo promove a propensão para o risco, uma vez que o empreendedorismo está relacionado com conhecimentos e habilidades para estimular a motivação de um indivíduo a criar um novo empreendimento. Este resultado sugere que o impacto da educação para o empreendedorismo em países onde a cultura do empreendedorismo orientado é pobre ou ainda em fase embrionária e de desenvolvimento, será maior do que em países com uma cultura de empreendedorismo orientado forte. Este estudo aponta para um impacto positivo da educação e formação empresarial, incluindo o conteúdo e a natureza da educação para o empreendedorismo que é baseada em interações, reflexões, bem como em princípios de ação de aprendizagem que motivam empresários a serem inovadores e criativos nos seus empreendimentos (Lee, Chang e Lim, 2005).
Como refere Peter Drucker, "O empreendedorismo não é nada mais do que uma disciplina e, como qualquer disciplina, pode ser aprendida.". O aspeto chave de Drucker é que a inovação não é uma atividade limitada a uma classe especial de pessoas (Drucker, 1985, P.24). Assim, segundo Ulrich (2001), "a importância da educação empreendedora é derivada da importância do empreendedor para o nosso sistema económico", sendo que o ensino do empreendedorismo influencia o comportamento e a tendência empresarial (Kolvereid e Moen, 1997) (Henderson e Robertson, 1999; Lüthje e Franke, 2002; Sexton e Bowman, 1983).
Conclusão
A educação para o empreendedorismo pode tornar-se fundamental e deve poderia estar inserida na organização curricular, desde o 1ºciclo até ao ensino superior. Desde que nascemos que temos a tendência para escolher profissões que implicam trabalhar por conta de outrem. Isto pode dever-se à educação que é desenvolvida ao longo do tempo que, por sua vez, até pode influenciar os nossos comportamentos e atitudes face ao empreendedorismo no futuro. Talvez por ser verdade é que o nosso país apresenta uma elevada aversão ao risco, relativo ao empreendedorismo, e, consequentemente, acabam por existir poucos empreendedores/as.
O desenvolvimento de competências nesta área pode tornar-se uma mais-valia para as pessoas, pois são transversais a qualquer profissão. Como tal, podemos pensar que o empreendedorismo não deve ser associado, única e exclusivamente, à área da gestão. Todos poderão ser empreendedores/as, independentemente da sua área de formação. Mas o que poderá eventualmente acontecer, tal como sugerem várias investigações longitudinais, é que se absorvermos conhecimento inerentes ao empreendedorismo, teremos maior probabilidade em vir a desenvolver um empreendimento.
Todavia, isto leva a uma nova questão, o modo como os “educadores para o empreendedorismo” abordam o tema, transmitem os seus conhecimentos. Este profissional terá de realizar um trabalho centrado no aluno, para que ele próprio, de modo autónomo, possa desenvolver competências específicas na área do empreendedorismo. É uma aprendizagem muito ativa, com o poder no lado do aluno. Assim sendo, o melhor professor poderá ser aquele que motiva mais o aluno e o coloca no caminho certo.
A educação para o empreendedorismo será um tema cada vez mais atual e em voga. Conquanto, na atualidade, já é muito frequente falar-se de empreendedorismo. Todavia, falar não chega. É fundamental que nos organizemos, enquanto sociedade, e comecemos a despertar as competências empreendedoras nas nossas crianças e por todos os adultos. O Mundo encontra-se repleto de desafios, na maior parte exigentes. Assim sendo, só os melhor adaptados conseguirão triunfar…
Referências bibliográficas
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·        O'Connor, A., (2012), “A conceptual framework for entrepreneurship education policy: Meeting government and economic purposes”, Journal of Business Venturing.
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