quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

(Pré-) História da Educação Social: A Pedagogia Social como sustentação científica

(Pré-) História da Educação Social: A Pedagogia Social como sustentação científica

Ruben Amorim
Apes | Associação Promotora da Educação Social
Portugal


Nota introdutória
Para se aceder ao conceito de educação social é fundamental entender-se a pedagogia social, uma vez que esta é a ciência da educação social (Serrano, 2004). Com efeito, o presente artigo tem como propósito elucidar acerca do trajeto histórico, geográfico e temporal da pedagogia social, através dos contributos de diversos autores que, apesar de não serem consensuais, desenvolveram o conceito até o tornarem numa ciência.
Mager, Diesterwerg, Natorp ou Nohl?
Quem é, afinal, o mentor da Pedagogia Social?
Abundam defensores de uns ou de outros, porém, alguns factos inequívocos, descurando qualquer tipo de julgamento, permitem perceber que cada um dos indivíduos referenciados contribuíram para o desenvolvimento do que hoje definimos como pedagogia social. Muitos outros nomes poderiam ser referidos, no entanto, esta seleção permite simplificar uma quantidade inestimável de contribuidores para a emergência da pedagogia social.
Volveu-se, inicialmente, um período de uma pedagogia social implícita, isto é, de antecedentes que indiretamente contribuíram para o aparecimento deste conceito: mundo clássico (Grécia e Roma), desde Platão a Hegel, e de Kant a Pestalozzi, passando por Rousseau (Caride, 2005 e Díaz, 2006). 

O surgimento espaço-temporal da pedagogia social
A pedagogia social surge na Alemanha em meados do século XIX, consolidando-se na primeira metade do século XX (Serrano, 2003; Díaz, 2006; Caride, 2005; Ortega, 1999; Noguero, 2005), devido aos problemas relacionados com a sociedade industrial e a crise belicista. Rauschenberg (1999), citado por Caride (2005), refere mesmo que o século XX é o século da pedagogia social.
Centremo-nos nos nomes iniciais. Como referido anteriormente, cada um deles teve a sua pertinência no surgimento da pedagogia social, todavia, com contributos divergentes.
A primeira referência ao conceito de pedagogia social: Mager (1844) e Diesterwerg (1850)
De acordo com Caride (2005) existem autores que defendem que foi Mager o primeiro a referir-se à pedagogia social: Kronen (1980) e Böhm (2002). Porém, outros defendem que foi, precisamente, Diesterwerg a utilizar, pela primeira vez, o conceito de pedagogia social.
Um facto é comum e unanime entre praticamente todos os autores: quaisquer dos dois que tenham feito referência à pedagogia fizeram-no, inequivocamente, sem qualquer intencionalidade e rigor científico (Caride, 2005).
Ainda assim, o criador do conceito de pedagogia social é manifestamente associado a Diesterwerg, em 1850, aquando da sua publicação: “bibliografia para a formação dos professores alemães”.
Natorp e o sociologismo pedagógico
Caride (2005) refere que vários autores (Luzuriaga, Kuchenhoff, Fermoso e Böhm) reconhecem a importância de Natorp no desenvolvimento da pedagogia social como ciência. O mesmo autor refere que Natorp foi o criador do socialismo pedagógico, mais do que propriamente da pedagogia social.
Existe uma grande divergência entre autores relativamente ao seu contributo para a pedagogia social, isto é, uns defendem que apenas criou um movimento ideológico, outros afirmam que ele foi o fundador da pedagogia social.
Natorp terá criado o conceito de pedagogia social, no entanto sem representar, na altura, o que é hoje a pedagogia social (Quintana, 1984), sendo Nohl terá referido, de acordo com Caride (2005), que quando pensamos numa pedagogia como assistência e prevenção social temos que obrigatoriamente esquecer Natorp.
Em contrapartida, Radl (1984) afirmou que Natorp foi o primeiro a atribuir à pedagogia social um conceito, um objeto e as suas tarefas. Assim, muitos autores mais recentes reconhecem a importância de Natorp para a afirmação da pedagogia social como ciência (Caride, 2005), uma vez que ele não só pensa e escreve sobre este mesmo conceito, mas também investiga e reivindica o seu estatuto científico e não meramente como doutrina artística.

Nohl e a afirmação da pedagogia social como ciência
Hermann Nohl assumiu-se como a figura do “movimento pedagógico social” dos anos 20 (Díaz, 2006), sendo o pai (Quintana, 1997) e impulsionador da pedagogia, tanto ao nível teórico como prático, considerando-a como uma teoria da prática para a prática (Radl, 1984). Abriu, ainda, novos campos de trabalho no âmbito da pedagogia social: desde a infância, passando pela formação juvenil até à formação de adultos (Böhm, 2002). Segundo Díaz (2006) Nohl sublinhou a necessidade de realizar ações científicas (investigação) para dotar a pedagogia social de um caráter científico. Petrus (1997) referiu que Nohl marcou o desenvolvimento da pedagogia social europeia, definindo-a como a “ciência da socialização terciária”.
De referir que Bäumer foi uma colaboradora de Nohl e assumiu também uma grande pertinência na afirmação da pedagogia social e entende-a como parte da pedagogia, no fundo, um ramo da educação que se ocupa da área extra-escolar e extra-familiar, chamando a atenção à assistência educativa publica, social e estatal (Quintana, 1999).
Notas finais
Parece evidente que Diesterwerg é considerado o autor que, pela primeira vez, referiu o conceito de pedagogia social. Porém, sucederam-se autores que contribuíram de modo significativo para o desenvolvimento e afirmação da pedagogia social.
Natorp, apesar de não ser consensual, contribuiu de modo especial para a afirmação da pedagogia social como ciência e, porventura, terá mesmo ele a iniciar a investigação e sua legitimação e reconhecimento científico.
Nohl é uma figura incontornável da pedagogia social e assume-se como figura principal nos anos 20: movimento pedagógico. Contribuiu para a afirmação da pedagogia social como ciência terciária.

Referências bibliográficas
CARIDE, J. A. (2005). Las fronteras de la Pedagogia Social: Perspectivas científica e histórica. Barcelona. Editorial Gedisa, S.A..
DÍAS, A., (2006), “Uma Aproximação à Pedagogia – Educação Social”, Revista Lusófona de Educação, Vol. 7, pp. 91-104.
ORTEGA, J. (1999). Educación social especializada. Barcelona: Ariel.
PETRUS, A. (1997). Concepto de educación social. Pedagogía social. Barcelona: Ariel.
QUINTANA,J.M. (1989). Pedagogía Social. Madrid: Dikynson.
RADL, R. (1984). Conceptos, teorias y desarrollo de la pedagogía social. Bordón.
RIERA, J. (1998). Concepto, formación y profesionalización del educador social, el trabajador social e el pedagogo social. Valencia: Nau Libres.

serrano, g. (2004). Pedagogía Social, Educación Social: contrucción científica e intervención prática. 2ª edición. Narcea, S. A. de Ediciones. Madrid.

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