domingo, 4 de julho de 2010

SINDOROMA DE BURNOUT OU EXAUSTÃO PROFISSIONAL

O motivo pelo qual surge esta iniciativa de colocar esta mensagem acerca do tema acima designado por sindroma de burnout resulta da observação no meu local de trabalho. Neste sentido e em conformidade com os trabalhos realizados no âmbito académico, aquando a licenciatura em Educação Social, espero partilhar alguma informação a este nível, ainda que diminuta.

Os objectivos passam por sensibilizar os/as colegas para a existência desta problemática, sobretudo quando o trabalho se torna cada vez mais exigente para o funcionário onde vê os seus direitos reduzidos. Concomitantemente, acrescentar informação a todos aqueles que se vêm confrontados com este problema quer directa, quer indirectamente, uma vez que é um problema multidimensional e, por fim, lançar o debate acerca de certas práticas existentes e vigentes em algumas instituições, sobretudo quando lidam com pessoas e a sua integridade depende de nós.

A associação entre condições de trabalho e ocorrência de doenças físicas e transtornos mentais vem a ser cada vez mais estudada a partir da segunda metade do século XX, mas o reconhecimento clínico de tal relação, ainda hoje é diminuto.
O burnout, ou síndroma de exaustão, tem sido alvo de estudos de prevalência, análises da validade de constructo, identificação de factores de risco ou de protecção e objecto de diversos artigos, como é possível constatar através das mais diversas revistas científicas e bases de dados.

O burnout é uma designação recente para uma condição antiga, metaforizando uma vela que se apaga ou uma bateria descarregada, representa um estado de fadiga física e emocional associada ao desenvolvimento da actividade profissional, traduzindo “a mais insidiosa e trágica consequência do stress no trabalho” (Freitas, 1999, p.101).
Este estado, caracteriza-se pela associação a alterações fisiológicas decorrentes do stress (maior risco de infecções, alterações neuroendócrinas, nomeadamente do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal, hiperlipidemia, hiperglicemia e aumento do risco de doença cardiovascular), abuso de álcool e substâncias, risco de suicídio e transtornos ansiosos e depressivos, além de implicações socioeconómicas (absentismo, abandono do posto de trabalho, queda da produtividade).

Introduzido por Freudenberger, em 1974, é descrito como um “incêndio interno”, um estado de fadiga ou de frustração surgido pela devoção por uma causa, por uma forma de vida ou por uma relação que fracassou no que concerne à recompensa perspectivada. Segundo Maslach, Schaufeli & Leiter (2001), o burnout é um síndroma psicológico resultante de stressores interpessoais crónicos no trabalho e caracteriza-se por: (1) exaustão emocional, (2) despersonalização (ou cepticismo) e (3) diminuição da realização pessoal (ou eficácia profissional).
A exaustão emocional corresponde à sensação de esgotamento físico e psicológico, fadiga intensa, falta de forças para enfrentar o dia de trabalho, o vazio de já não ter mais nada para “dar”.
A despersonalização, caracteriza-se pelo distanciamento emocional e indiferença face aos outros, que tão frequentemente passam a ser tratados como objectos ou números e não como pessoas, porque está a ser exigido mais do que deveria dos seus recursos emocionais.
A diminuição da realização pessoal expressa-se como falta de perspectivas para o futuro, frustração e sentimentos de incompetência e fracasso, a sensação de que o que fez no trabalho não permitiu atingir as suas expectativas.
O burnout é hoje encarado, não como exclusivo de alguns sectores profissionais específicos, mas sim, relacionado com a maneira como se organiza o trabalho, independentemente da actividade exercida. Contudo, segundo Ramos (2001), o burnout afecta sobretudo as pessoas cujo trabalho assenta no relacionamento interpessoal, tendo sido estudado inicialmente nas profissões da saúde e do ensino. Nas empresas, as funções mais sujeitas às exigências de contacto pessoal são as mais propensas ao burnout.

Esta síndroma “instala-se” a partir de vivências de stress no trabalho, as quais, por definição, confrontam a pessoa com um desajustamento entre as suas motivações e expectativas, e os recursos que o trabalho disponibiliza para as satisfazer. A esta forma de stress, a pessoa responde com mais empenho e mais esforço pessoal, na tentativa de o superar – envolve-se mais, “dá-se” mais, sobrecarrega-se mais, sofre mais. A consequência desta entrega sobresforçada é o burnout, e a desistência, o cinismo e o distanciamento emocional surgem à medida que ela conclui que os seus esforços foram infrutíferos.
Assume-se como determinante fundamental nesta síndroma a impossibilidade encontrada por pessoas profundamente empenhadas em atingir um ideal, realizar determinada meta, impossibilidade esta, também determinada pelas características da organização do trabalho e relações interpessoais nele estabelecidas

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